domingo, 25 de janeiro de 2009

Eu disse que tinha medo do fim

Só posso reafirmar e constatar o que ja tinha escrito antes. Terminar, findar, essas palavras terminadas com AR me matam. São dolorosas porque amAR também tem o mesmo fim. O mesmo fim AMAR e TERMINAR. Parecem que nunca conseguiremos fazer essa dura relação até que elas aconteçam. Nestes dias em que todos que me acompanham percebem um quê de autobiografia nos meus textos, compartiho mais uma vez um pedaço da minha vida em que falo de amor (este que eu custei ter) e que agora tem que conviver com a difícicl tarefa de dizer que terminou. O amor não termina da noite pro dia. Ele pode e vai ganhar outras nuances, daquelas as quais dedicamos para amigos. Mas nunca com o mesmo toque de intimidade, com o mesmo empenho de quando diziamos felizes que estávamos em graça. Junto com amor e fim temos a mediação da nostalgia. E é exatamente neste ponto que dói mais, porque ele tem as marcas do começo gostoso, do começo que a gente jura que não vai ter fim. Aliás fim é a palavra que nem se cogita porque toda entrega que é verdadeira é cega. A cegueira mais potente da vida, mas que tem cura. E não adianta: não tem palavra que me console, não tem palavra que consegue agregar o tamanho deste momento. Hoje também estou pessimo para escrever, habitualmente não escrevo coisas assim sem que tivesse ao menos um refino de estilistica literária, mas como tudo que eu faço está direcionado com minha vida, estou fazendo uso da objetividade, esta, que sempre luto em conter no que faço da minha arte de escrever. Aos meus amigos, poucos e bons que valiosamente dão o sabor da sua crítica, compartilho com vocês: estou vivendo o luto. Sem forças maiores para escrever, despeço-me, porque de vocês eu não termino.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Não apague meu nome da areia

Luto o quanto posso, seja do meu jeito burro e incoerente pelo amor, seja com palavras escolhidas a dedo para te ofertar. Não adianta o que desejas apagar. Claro que a mim me faz falta, porque teu coração revela algo que me desfalece todos os sentidos. Faz-me ter medo. O medo do fim. Já disse do horror que tenho do fim e o seu trabalho. Amor: palavra única que te define em tudo que é meu e faço referência a ti. Não sei. Tenho dores de cabeça agora, sozinho na madrugada, escrevendo em horas que você me fazia compania. Essa noite em que o vento toca meu rosto, me sinto solitário, num primeiro abandono sem uma palavra de grande carinho já que amor por si só, a ti já não basta. A mim já bastava. Porque amor de tão curta é a palavra não comporta sua grandeza e é rústica e tão pequena para que possamos descobrir a singeleza que é vivê-la. Minha inspiração foi dormir. Eu vou também, de coração ferido, de alma ferida, de tudo ferido, lutando para mim mesmo crer que as marcas que ficam um dia se arranjam, fecham as dores. Mas as cicatrizes ficam. Tão fiéis quanto teu nome na areia

domingo, 11 de janeiro de 2009

Exorcismo

Tenho nas minhas mãos a acidez das palavras. Tenho elas como escudo para me proteger daqueles que me tratarem como uma alternativa. Cada um que constrói sua força sabe do que estou falando. Assim vou digerindo a idéia da distância, do cinismo e da ignorância. Superioridade se faz assim, sem meias palavras.
Ainda que eu suportasse a excetricidade a qual me coloco diariamente para sobreviver de um bom estilo, não perderia o senso mínimo de humanidade que me toca e me faz ímpar nas minhas escolhas, principalmnte daquelas que mudarão minha vida.
Não tenho medo das palavras: elas são minhas amigas fiéis. Elas não me traem. De resto tudo posso ser traído, mas mesmo que fossem usadas para minha derrota, ainda sim elas me avisariam.
Outra recomendação que manifesto é de que não gastarei meu melhor, com quem me oferece o pior. Se comigo for, terá de fazer por onde e mostrar serviço e muita afeição à discrição, ao amor e à paz. Se algum desses princípios se tornar violável, já nao assino meu nome pelos atos.
Oferecerei meu coração a poucos. Seja como for, não se faz da minha vida o que bem quiser.Tenho ilimitações, mas saberei com quem eu vou mandar parar e descer.
Aprenda: a força é coisa pra poucos. Mas maior é aquele que mesmo não a tendo sabe onde fazê-la ou buscá-la em si mesmo. Deste modo me despeço do cinismo. Quem faz uso dele é inimigo meu, portanto distância! Não tenho tempo a perder com derrotas que me mandam convites em letras douradas.

Gadiego Cieser

Convenções


Amizades que duram muito tempo são problemáticas. Porque ao longo dos anos se desgastam pela inconstância de verdades, pela sutil necessidade de esconder pequenas e grandes fraquezas, tudo para preservar aquela pessoa velha e antiga, sem muitos avanços além da idade.
-Oi. E aí?
-É tô sabendo que você não prestou vestibular pra Jornalismo. Mentindo pra mim... Pôxa, a que ponto chegamos não é mesmo, Borges?
-É...A que ponto estamos Plínio. Melhor dizer assim...
Logo em seguida pairou um silêncio cortante. Desses silêncios que antecedem qualquer coisa séria e que por si mesmo já respondem inúmeras perguntas que seguem vagas na cabeça. Nestas horas o coração é o mais despreparado.
-Sabe o que é ? Acho que não acredito mais nessa amizade, nem mesmo em você que, aliás, também me esconde coisas, do tipo, que não quer mais viajar comigo no ano novo em troca da menina que conheceu em São Paulo. Bem você que sempre me disse que quando a gente conhece alguém fora daqui, não pode ficar cultivando amores incertos, já que a separação é sempre certeira. Só que eu vejo que este momento é que se faz mais certeiro. Ou você me diz o contrário?
As respostas estavam secas na garganta. Era verdade tudo o que Borges dizia, mas Plínio nunca reconheceria tal circunstância, porque nunca reconhecia nada e porque também gostava de ter suas verdades imperiosas. Porque também era notoriamente ignorante para muitas coisas, e se a amizade caminhasse para o fim não queria ser o culpado de nada. Aliás é sempre vítima. As pessoas têm motivos suficientes para gostar dele. Os outros é que são perigosos, culpados e desgraçados.
-Eu?? Borges venha cá. Você mente pra mim e eu que escondo as coisas de você? Você nunca me ouviu dizer isso! Quer que as coisas cheguem a este ponto com este pretexto?
-Ora veja... Antes de qualquer coisa, foi você quem tocou neste assunto. Por mim passaria em branco. Mas você precisava também de algum artifício para hoje estarmos aqui discutindo um assunto que necessitava reparos a muito tempo. Plínio, é preciso reconhecer, e com maturidade, que não dá mais para seguirmos. Isso é crescer!
Borges é a parte da amizade que responde pelo medo, pela conveniência, e que usa de boas ou certas palavras para fazer sua opinião visível. Mas é um incompetente na hora de respeitar suas vontades, tudo em prol da vontade do outro. Muitas vezes repeliu pessoas que considerava alienadas sem perceber a hipocrisia de ser mais um deles.
-Tudo bem... Você escolheu assim. Eu ficarei conforme “toca a música”. É uma pena... Tanto tempo e nós, assim? Não é a toa que as pessoas invejavam nossa amizade. E sabe por que? Porque amizade como ERA a nossa não existe. Onde já se viu duas pessoas darem tão certo assim? Com certeza tinha algo errado. E tinha mesmo.
-Claro. Não vê? A perfeição é a culpa disso tudo. O medo de um ser honesto um com outro provoca estas repelências. Honestidade nunca foi a referência entre nós, porque até mentir com tamanha presteza aprendemos juntos na viciosa cumplicidade, que nada mais era que o alimento para isto agora. Mas cada um encheu a própria alma com a lama da mentira. Mentira!!!
-E o fim então?
-É o fim. E...Teve começo?
Borges e Plínio pela primeira vez caminharam para lados opostos, desta vez conhecendo um ao outro melhor do que antes, custando para isso, a amizade, mas cada qual no seu íntimo acreditando ter feito a coisa certa, porque apesar de tolos queriam muito que esse dia chegasse.


Gadiego Cieser

Marvin esperando pelas borboletas



Marvin é destas pessoas do bem. Não se mete em controvérsias, acredita muito em um mundo melhor e empenha nisto. Muitos querem sua amizade voluntária assim como tudo que com amor, este menino colhe entre umas espinhadas e outras, entendendo que a vida precisa renovar o pacto com a dignidade. Faz teatro, toca algumas coisas de piano, odeia televisão, mas tem paixão avassaladora por Jazz, principalmente em dias de chuva.
Este é o menino que dias desses saiu com a irmã depois da aula e foram para um boteco na periferia da cidade para comerem algo antes de retornarem para suas casas. Estavam ali desfrutando a presença um do outro, comendo feijão tropeiro, e rindo muito. Mas tem uma terceira pessoa, o cunhado, que é destes que faz um momento como aquele parecer uma coisa pequena perto da grandeza da sua imbecilidade, principalmente quando os assuntos são cultura e dinheiro. Mas com dinheiro ele consegue ser pior.
Foram pagar a conta. Marvin é “quebrado”, come muito à custa dos outros e isso ele já entende que é problema, mas seu cunhado é problema maior porque ele consegue estragar qualquer coisa por causa de dinheiro. A conta do bar verbalizou-se em pequenas ofensas direcionadas para o lado mais fraco da situação. Não é assim mesmo que acontece com a “corda” quando arrebenta?
Sem dinheiro, o “duro” abaixou a cabeça, deixou a irmã se entender com o marido, chorou sem lágrimas e engoliu um pedaço de carne que também não deixava de ser um pouco de desaforo temperado com humilhação.
“Quanta felicidade se destrói por causa do dinheiro?” pensava o pianista. Também pensava o quanto àquela situação era desonesta com ele. Bem ele que não entendia os motivos que levavam uma pessoa ser tão vil para criar tantos atritos por miudezas...
Decidiram todos irem embora. A irmã com muita pena de tudo, sem argumentação para mediar aquilo. O cunhado sempre brilhante para a ignorância e, ausente de bom senso ia estupidamente enchendo a boca para falar que “comprou com o suor do próprio trabalho” o carro velho que guiava. E Marvin olhava as pessoas, olhava para a rua, fechou os olhos para olhar o coração também, porque lá estavam as respostas que precisava. Porque gente nobre consulta a alma nestes momentos. Já os miseráveis não consultam nada... Não precisam! A miséria tem conchavo com a arrogância estapafúrdia. Conclusões sinceras.
Marvin sabe que borboletas antes de voarem vivem nos casulos...E acredita que o amor, a felicidade e a compaixão também estejam vivendo assim, esperando pelo grande dia.



Gadiego Cieser