sábado, 5 de setembro de 2009

Sentado na sala, ele partiu


Depois que ele terminou de limpar todas as coisas, e tudo tinha um cheiro deliciosamente floral, sentiu que seu coração batia muito depressa. Sentou-se, respirou fundo e a dor no peito aumentou. A cabeça também doía. Como se fosse uma marretada. Ninguém na casa, o silêncio fez um grande império. Lá fora o anuncio de uma chuva que viria. Então ele pensou: "Que belo dia pra partir". Terminou de ajeitar as coisas apegando-se a detalhes minúsculos, retirou o óculos, acendeu uma vela e uma prece muito delicada. Nesta hora o coração já estava para sair do corpo, e a cabeça fundia-se em insuportável dor. No fim da prece tudo parou. Nenhum som, nenhuma dor mais. Sentado na cadeira de fios verdes, ele fechou os olhos para não mais acordar. Ao menos pra essa vida. Sabia que quando abrisse novamente os olhos estaria na outra morada. É assim quando o corpo não suporta mais esta morada. É assim quando as coisas estão grosseiras em demasia. A caminhada pode parecer frívola, mas a passagem não. Porque os olhos agora vêem a grandiosidade das coisas que foram confiadas... Muitos não entenderão de onde possa haver beleza de calmamente deixar-se morrer. Até que chegue a hora. Eu de cá, alegremente espero a minha vez. Mas é uma alegria da alma. Não verão traços dela no meu rosto. Assim, vou esperando... Navegando. Esperando os raios do sol me buscar.