segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Dos céus a luz do meu desabrochar


Ele se olhava no espelho. Não sabia por qual razão mas gostava de ver como se expressava chorando. Digamos, era sua terapia particular. Com os olhos fixos na alma poderia entender por que passava por aquelas provações. As marcas acentuadas no rosto, ainda meio que leves já davam sinais de que o tempo pedia aos berros uma pontinha de amor próprio. A tal delícia de ser o que é.
Saiu de casa e foi se encontrar com amigas. Essencialmente parecidas, essencialmente marcadas por dores parecidas, o copo de cerveja no bar deu a todos os presentes um sorriso que dizia: por que não parar simplesmente e de luzes apagadas deixar o silêncio acalmar tudo?
Andando pelas calçadas, agora sozinho, descobria o viés da primeira solidão necessária. Não pensava nem queria crer em frases de revolução intíma. A consciência de saber que precisa transformar-se já é insconscientemente dolorosa. O mundo naquele instante pareceu de imenso vácuo... Do mesmo que se encontra nas estrelas. Nestas horas uma centelha do amor começou a nascer. Porque ali no jardim, olhando as flores foi que aprendeu: a vida é demasiada generosa para o nosso desabrochar. O que fazem essas plantas tamanha exuberância pedindo tão pouco pra viver? Concluiu que era a luz... o elemento que faltava.