domingo, 16 de novembro de 2008

O Assalto

Fazia tempo que não me assaltavam. Parece dessas coisas que a gente já espera vivendo em uma cidade grande. Assim, grande no tamanho, mas pequena em outras coisas.
O cara queria tudo de valor que eu tinha. Deu vontade de rir, porque como eu daria minha honestidade para ele?
Enquanto ele falava, e me torturava a covardia e o medo, eu tremia, olhava nos olhos dele, me sentia ora ameaçado, ora fortalecido, ora inconsequente. Quando te roubam algo não é só a metéria que vai embora. O tempo também vai, o palco da vida põe luzes exclusivamente em você. Aquele momento é você e o meliante. É uma solidão cáustica, uma fragilidade presente não só em mim, mas nele também. Porque ali é a hora do nivelamento. Eu refletia essas coisas...Ele, me confundindo com um garoto de programa, me chamando de desgraçado. Só assim eu pude ter em mim de uma uma só vez todos os personagens da rua urbana.
O ladrãozinho...sedutor ladrãozinho. Veio sorrindo. Claro, ele devia pensar: "Sorrindo a gente parece inocente"E foi ele rindo e me roubando, me atormentando, que eu negociei míseros 20 reais. Quando a cidade nos adestra, a gente até dialoga com um ladrão, pelo juízo da sobrevivência.
O onibus finalmente chegou. Subi. Ele lá na parada, sorria pra mim, igual quando chegou. Eu sorri também. Não resisti. Foi aí que eu entendi que não fui roubado.
Eu comprei aqueles minutos de sedução.

Um comentário:

João Damasio disse...

Só mesmo o Gadiego...

Reagir dessa forma a um assalto e ainda rir de tudo isso. QUe crônica, kra...

Massa...

Me deliciei com a cronica e li no minimo umas 5 vezes além de mostrar e inidicar a amigos... é ótimo texto...

Como sempre neh.. parece q já virou rotina, mas num posso mentir e vou continuar comentando sinceramente.