domingo, 12 de junho de 2011

Panelas


Abri o armário. Uma panela de ferro com tampa de vidro. Outra de vidro com tampa de alumínio. A de alumínio com tampa de teflon. Teflon não tinha cabo nem alças mas tinha sua outra tampa.Panelas velhas sem tampas qualquer. Panelas novas com tampas trocadas.
Delicadamente fui derrubando uma a uma. Não era possível que com tantas sugestões a olhos nus, não enxergavam cada qual para si, sua outra parte.
Quando percebi minha contrariedade, semelhante à solidão empurrei o armário. Primeiro para que tudo que pudesse quebrar, estourasse. Depois porque vai que os garfos de cabo de madeira querem as facas de acrílico? E as colheres de chá? E se elas quiserem de uma hora pra outra serem colheres de sopa? Tem as promíscuas xícaras, de todos os tamanhos, as travessas que religiosamente viraram pó. Tudo destituído de sua ordem, pude estar aliviado. Como cada qual estava em vagabundo acordo de caos, instalei a minha forma de desorganizar o óbvio.
Portanto não venham pedir ou reivindicar o antes, o que era possível.
Para que as panelas encontrem o gemelar de sua parte vão correr o mundo novamente. Em busca daquilo conhecido como aquilo que lhes fazem inenarrável falta.

Ps.: Sou panela de pressão. Só me salvei porque estava no fogão. E porque sendo quem eu sou não caibo em outras panelas. Diferente das outras.

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